Esse problema nos dentes é discreto e não causa dor. Mesmo assim, está relacionado a sérias complicações e suas estatísticas não param de crescer
Por André Biernath
Primeiro, a boa notícia: as taxas de cárie caíram no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, 44% dos indivíduos com 12 anos estão livres desse problema bucal, uma melhora de 13 pontos percentuais em menos de uma década. Porém (e sempre há um porém), o relativo controle da encrenca vem acompanhado de perto por outro fenômeno que começa a incomodar: a erosão dentária, condição caracterizada por um ataque de substâncias ácidas ao esmalte, a camada externa dos dentes.
“Ela ganhou mais importância nos últimos tempos, quando as pesquisas passaram a demonstrar um aumento de sua prevalência na população”, relata o odontopediatra Marcelo Bönecker, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). O professor deu uma aula sobre o tema durante o último Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo. Por ser um assunto relativamente novo, nem os formados na área estão 100% familiarizados com ele. “Muitos ainda nem sabem como diagnosticar e prevenir a doença”, afirma o dentista Fábio Sampaio, da Universidade Federal da Paraíba.
E olha que preocupante: um levantamento realizado na cidade de Porto Alegre com cerca de 1 500 crianças revelou que 15% delas já apresentavam as tais falhas nos dentes. Uma parcela do grupo foi reavaliada três anos depois, e o número de acometidos saltou para 22%, com elevação na gravidade em um quarto dos casos. “Observamos cada vez mais o estabelecimento precoce do quadro. Alguns adolescentes já possuem padrões de erosão similares ao de adultos ou de idosos”, alerta a dentista e autora do estudo Luana Severo Alves, da Universidade Federal de Santa Maria (RS).
As mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares parecem ser o principal motivo para a popularidade e o agravamento da condição. “A ingestão excessiva de refrigerantes e sucos ácidos está relacionada à erosão dentária”, exemplifica a dentista Christiana Murakami, da Clínica Portal do Sorriso, em São Paulo. Apesar de existir uma tendência de queda na popularidade delas, em torno de 20% dos brasileiros tomam bebidas gaseificadas cinco vezes na semana e, portanto, estão mais propensos a esses danos. A lista de malfeitores não termina aí: isotônico, chá gelado, vinho, energético, remédios e um sem-fim de produtos e comportamentos têm potencial de esburacar o esmalte.
Os ácidos regurgitados do estômago são outro fator que incentiva a erosão. “É o que acontece norefluxo gastroesofágico e na bulimia, doenças que apresentam como consequência a diminuição do pH bucal”, nota a odontopediatra Marcelle Danelon, da Universidade Estadual Paulista, em Araçatuba. Nesse sentido, o dentista pode ser o primeiro profissional de saúde a notar os sintomas, dar orientações e encaminhar o paciente para um tratamento com o gastroenterologista ou o psiquiatra, a depender da conjuntura.
Fonte: www.saude.abril.com.br